Musônio Rufo

Musônio Rufo
por Breno Lucano

Quando falamos em estoicismo imperial, lembramos de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. A impressão que se tem é que em todo esse período foram contabilizados apenas três nomes dessa que foi uma das maiores correntes de Roma. Nomes como Musônio Rufo ficam à margem das pesquisas e do púbico em geral.

A primeira coisa que nos vem à mente quando falamos em Musônio Rufo é se a filosofia e a política devem se envolver? Em outras palavras, qual a relação existente entre aquele que busca o conhecimento e a vida pública? Um exemplo clássico foi Sócrates, condenado à morte pela pólis. Mas esse não foi um caso único. Para além dos gregos, os romanos - especialmente no primeiro seculo da era comum - viveram esse dilema de perto quando muitos filósofos foram banidos da Urbe pelos primeiros imperadores, entre os quais Musônio Rufo.

O estoicismo serviu de sustento para a atividade política de alguns imperadores, mas também para a reprovação moral de determinadas personalidades. Esse padrão pode ser encontrado sob os imperadores flavianos (de Vespasiano a Domiciano) e seus sucessores, bem como os julio-claudianos. Musônio Rufo, um cavaleiro romano - pertencendo, portanto, à segunda casta romana - esteve envolvido diretamente na política especialmente em oposição ao que tomava como ações más, tanto sob Vespasiano como sob Nero, tendo sido exilado duas vezes.



Embora tenhamos poucas informações sobre este antigo professor de Epicteto, percebe-se alguns traços característicos do cinismo, como em muitos autores estóicos romanos. Griffin dirá:

"Musônio Rufo dava ao ponos (esforço e trabalho árduo) um valor positivo e insistia na necessidade de treinamento contínuo para o corpo assim como para a mente." (GRIFFIN, p. 223)

Havia várias maneiras de fazer com que o estoicismo herdasse uma herança cínica, de tal forma que fizesse com que os estóicos adquirissem uma aparência romana. Um elemento importante de similaridade entre as tradições cínicas e romana era a crença no papel do treinamento físico no desenvolvimento da tolerância à dor  e às dificuldades em geral. Os estóicos no período romano tentaram reter, juntamente com a noção de exercício espiritual tradicionalmente defendida pela sua escola e ainda enfatizada por Epicteto, alguns elementos da askesis física cínica.

Outra característica notável de Musônio Rufo é o alto valor que ele dá ao casamento e à vida em família. Por exemplo, ele apresenta as mulheres como tão capazes de virtude (e de filosofia) quanto os homens. Tece críticas aos padrões duplos concernentes à atividade sexual masculina e feminina fora do matrimônio. Gill afirma que Musônio:

"... apresenta o casamento como o contexto de uma "vida compartilhada" e da preocupação mútua, bem como da criação de filhos, defendendo que o matrimônio e a criação de filhos são compatíveis com a atividade filosófica."  (GILL, 49)

A postura de vida compartilhada entre homem e mulher já era defendida por Crates e Hipárquia, num modelo matrimonial tipicamente cínico, num período em que os papéis sociais não permitiam filosofia à mulher, que deveria unicamente se entreter na tecelagem. E mais: o matrimônio defendido por Musônio deveria adentrar na perspectiva da vida simples e austera, novamente como Crates e Hipárquia, mas também como de Sócrates e Xantipa.





GILL, Christopher. A Escola no Periodo Imperial Romano. In: INWOOD, Brad. Os Estóicos. Edição Odysseus. São Paulo, 2006.

GRIFFIN, Miriam. Cinismo e Romanos: Atração e Repulsa. In: GOULET-CAZÉ, Marie-Odile; BRANHAM, R. Bracht, Orgs. Edições Loyola. São Paulo, 2007.




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