Sobre Identidade de Gênero e Orientação Sexual

Por Breno Lucano

Quando terminei minha graduação escrevi sobre uma abordagem filosófica sobre o uso de drogas em meu TCC. Foi apenas uma abordagem, dentro tantas que existem sobre esse tema. Isso é ciência. Ela se faz por diferentes narrativas dialéticas, onde se pode observar o mesmo objeto por variados angulos. Qualquer um que tenha feito uma simples graduação sabe disso.

O mesmo ocorre quando discorremos sobre temas espinhosos porque novos, como identidade de gênero e orientação sexual. Alguns dirão que não passa de ideologia de gênero gayzista. Não me preocupo muito com esses. Seria melhor que lessem antes do assunto antes de tecer considerações proveitosas, assim como tive que ler sobre uso de drogas. Não me atreveria escrever sobre fiísica quantica. Não é minha área, nada conheço sobre o assunto. Teria que ler sobre o assunto, refletir e, depois tecer algumas considerações. Não tenho como dizer se Stephen Hawking estava certo ou não porque nunca li um livro seu. Ele é um autor especialista.



Os autores não são unânimes quando falarão em identidade de gênero e orientação sexual: percebi isso com o tempo. Por um simplorio impulso objetivista tendemos a achar que a verdade é única e não pode existir vários olhares sobre o mesmo objeto.

Uma parcela dos teóricos tende a considerar o assunto sob o olhar inato. O sujeito nasce sob a condição heterossexual e homossexual, cis e transgênero.  Os marcadores biológicos, hormonais e genotípicos demarcam quem você é, homem ou mulher, macho ou fêmea. E nada há o que fazer quanto isso. Você pode se submeter a uma mastectomia, mas continuará sendo  mulher. Você pode tomar injeções de testosterona, mas sempre será gay. Nada se pode contra a natureza. Se a natureza o fez homem, você deve ser homem. Ou, teríamos uma aberração, algo anti-natural.

O inatismo sexual e de gênero é traçado no plano psíquico como uma força inconsciente que orienta o sujeito a determinado perfil social. Daí decorre o argumento segundo o qual a criança começa a manifestar, enquanto crianças, performances do outro gênero: a famosa criança trans que se percebe no outro gênero desde pequana ou que se direciona afetivamente com o mesmo gênero. É uma força que nada se pode contra, o sujeito admira o mesmo gênero ou outro desde tenra idade. Ele nasce assim e nada se pode contra. O mesmo ocorre com o cis heterossexual: o menino apenas se vê menino e aprecia o contato com o feminino, mas não deseja ser o femenino.

Saindo das teorizações, a militância usa bastante esse olhar do inatismo. Levanto a hipótese da biologização da homossexualidade levada à cabo desde o século XIX, como forma excluir aquela parcela da população que foge à hegemonia. Foucault trabalha muito bem essa abordagem em suas categorias de poder e nas formas de punição. Pode ser, e isso depende ainda de estudo, que a militância, tentando fugir do preconceito, o reforce à medida em que reproduz o modelo biologizante herdado dos séculos passados: o gay ou o travestis apenas podem estar doentes e precisam de cura.

Outra corrente percorre o caminho transcultural, que me parece mais adequado. As categorias de gênero e performance são representações sociais e culturais. O sujeito não nasce gay. O gay, assim como o hétero, são construções sociais. O cis, assim como o trans, são construções socais. E isso me parece muito nítido à partir da historização do movimento gay. À medida em que o assunto se tornou cada vez mais documentado, discutido, masificado, a perceção que se têm é que mais gays nasceram, como uma epidemia. Mas, o que temos é que eles se mostraram, se mostram porque o assunto começou a ser discutido, abordado abertamente. Hoje não precisam se esconder entre quatro paredes, apesar das dificuldades sociais que ainda persiste numa sociedade fortemente sexista e de cultura católica.

A antropologia faz bem essa reflexão de quanto o sujeito se torna congênere de sua própria cultura e meio social. Pode-se nascer homem, ter pênis. Mas o imaginário simbólico do que representa o homem e ter pênis pode não coincindir com o determinismo biológico. Diferentemente dos animais, o homem é ser simbólico, que cria e recria estilos, padrões, pulsões e vivacidade. E a identidade de gênero e orientação sexual perpassa essa esfera da vivacidade.

Talvez mais importante do que lutar por direitos civis - e aqui tiro o enxerto de Foucualt - os LGBTs devem recriar. Caso contrário, apenas reproduziriam a mesma performance estética e existencial hegemônica, colocando a singularidade em segundo plano.

Volto ao mesmo ponto: ao olhar e investigar qualquer objeto, devemos considerar as vários abordagens, não como contraditórios, mas como uma realidade dialética que se complementa na formalização de uma nova categoria. Não existe contradição em ciência. Existem diversas abordagens.

E o mais importante de tudo é investigar sem idéias pre-concebidas. Olhar de mente aberta. Ou cairia no obscurantismo pseudo-intelectualista que usa os diversos autores apenas como meio de reafirmarem minhas próprias opiniões. Será isso ciência?

Dito isso, finalizo recomendando a leitura dos clássicos. Pode-se dizer que há gayzismo esquerdista aqui ou que ali é conservadorismo barato. Em caso de dúvida, pegue os clássicos sobre o tema. Contra os clássicos, nada se pode dizer. Pode dizer apenas sobre as reinterpretações dos clássicos. Em termos de Brasil, o autor mais conhecido é o prof Dr Luiz Mott, antropólogo emérito da UFBA. Através da leitura de Mott - que talvez o leitor posssa até não concordar, tudo bem! - pode-se, ao menos, ter conhecimento de um autor conhecido sobre o tema para poder tecer considerações e ir além, lendo os autores que ele utiliza em suas pesquisas.

O pior pesquisador não é aquele que não sabe pesquisar. É aquele que demoniza tudo, até aquilo que deveria ler no gabinete, no laboratório.







     





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