por Breno Lucano
Muito se fala do dever enquanto modalidade ética e, assim, contra as proposições hedonistas., e disso já discorri no texto sobre Hedonismo, entre outros. Assim, o prazer se torna o oposto do dever, dois blocos diametralmente opostos na ética. Muito disso se deve à nossa herança iluminista, especialmente Kant; e, num modelo mais popular, ao cristianismo.
Ao contrário do que se diz, o hedonismo abrange os prazeres esperados da mesma forma que os desprazeres dispensáveis. Se põe como cálculo do regozijante ou aborrecido, do agradável e do desagradável, para somente depois julgarmos antes de agir. Epicuro explica tal matemática ao ensinar que um prazer não merece ser desfrutado se for seguido de um desprazer. O mero júbilo instantâneo se torna relativo e apenas procurado se considerarmos o momento após o instantâneo.
O sofrimento se torna o mal absoluto. Em decorrência, o bem absoluto coincide com o prazer definido pela ausência de distúrbios, a serenidade adquirida e mantida. Tendo o Bem e o Mal absolutos definidos, compreende-se que a aritmética hedonista obriga uma preocupação com o outro - tal como toda moral. Aos olhos dos adversários, o hedonismo não passa de mero egoísmo, um alguém que se dá ao consumo nos padrões neoliberais, no gasto sem limites de recursos. Mas o hedonismo defende exatamente o inverso. Isso porque o prazer nunca se justifica se custar o desprazer do outro.
Ao contrário da moralidade cristã, estabelecida pela estática e teorizada em direção ao absoluto, a ética do prazer aterriza sobre o momento histórico. Não disserta sobre uma metafísica em direção ascendente, mas sobre uma metafísica do corpo, uma física da metafísica.
Que significado possui uma vida baseada no hedonismo? Não apenas no desfrute do que pode ou não produzir prazer, na fruição do que pode o corpo, no reconhecimento do que pode o eu quando identificado com a matéria, mas também na beleza estética desdobrada na vida. Noutras palavras, o prazer que se configura como estética, o prazer como belo. O prazer aqui entendido como fruição se porta nas formulas da polidez nas relações, no acolhimento, no agradecimento, no atuar com alegria necessária na comunidade; a civilidade, a delicadeza, a doçura, a cortesia e a engenhosidade são virtudes tipicamente hedonistas que entram em substituição de uma moralidade vinculada à mortificação e de uma vida baseada nas lamentações do pecado.
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