por Breno Lucano
Não com dificuldade associamos a religião bolsonarista com o cristianismo. Aliás, este é o símbolo mais marcante do governo. Mas não qualquer cristianismo, não o do tal Jesus que se entrega por amor, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O Jesus bolsonarista mais nos faz lembrar com o Deus do Velho Testamento.
Seu Jesus não propõe um ethos, não salva, não nos faz caminhar entre os excluídos. Ele julga. E também não é qualquer julgamento, mas um julgamento endossado pelas idéias da classe média capitalista. Trata-se de um Jesus que não caminha entre os pobres. Ele possui repulsa pelos pobres, pelas mulheres, gays e índios. Temos um Jesus da ostentação.
A religião bolsonarista é elogio ao temor ao invés do amor. Bolsonaro incentiva essa postura e essa perspectiva teológica. Ele mesmo vai às "marchas para Jesus" e profere palavras de ódio. "Em nome de Jesus" as armas devem ser liberadas para matar bandidos.
A religião bolsonarista não se importa com o Brasil, senão com os brasileiros ricos. Daí a despreocupação com questões ambientais que não geram riquezas. E riquezas para os ricos, claro.
Bolsonaro não entende o conceito de Estado laico. Ignora que ele existe para fazer do Estado um terreno neutro, através do qual todas as religiões são possíveis. Bolsonaro imprimi nas instituições republicanas a marca religiosa evangélica. Depende deles. Eles formam seu público eleitoral. Por isso flerta com a idéia de que o STF deva ter um ministro evangélico. Bolsonaro faz sempre isso, defende a idéias que não correspondem com o ordenamento jurídico e, quando advertido, ignora as admoestações para continuar fazendo a mesma coisa.
A onda conservadora de costumes se relaciona com essa igreja evangélica reacionária que encontra em Bolsonaro seu protetor. O presidente representa a expressividade política dessas igrejas e colabora com a propagação de idéias infantis e mágicas. Mancos voltam a andar; cegos a ver. Mas a mágica dessas igrejas não é suficiente para dar sabedoria ao presidente.
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