Motel Bates e Freddie Highmore

por Breno Lucano

MOTEL BATES é uma série rica em termos de análises psicológicas. Claro, todos conhecem Norman Bates do filme Psicose, de Alfred Hitchcock. Mas imaginá-lo ainda adolescente, interpretado por Freddie Highmore, em situações sociais onde sua doença mental se agrava a cada dia num ambiente hostil é algo de outra magnitude. 

Norman possui uma relação de amor e ódio com sua mãe manipuladora. Em alguns momentos ele chega mesmo a ter uma explosão de fúria para, momentos depois, se desculpar e afirmar que a mãe é muito importante para ele. Amor filial se confunde com amor sexual inconsciente e, alguns casos, até mesmo consciente. 

Seus apagões característicos do transtorno de comportamento dissociativo são cada vez mais visíveis. Seu amor por sua mãe é tanto que ele mesmo assume sua identidade. Especialmente após a morte da mãe, Norma entra em estágio de negação e desenterra a mãe. Como se estivesse num útero, protegido, acalentado, afagado pela presença protetora da mãe, Norman se recusa a aceitar que terá que seguir a vida sozinho, afastado de Norma. 

Por outro lado, Norma, a mãe super protetora, agrava ainda mais o estado de Norman. Claro, o ambiente faz algum efeito no desenvolvimento do agravo mental, mas a superproteção, o impedimento que faz Norman tenha convívio social agrava ainda mais. Chega ao ponto onde Norma aprisiona mesmo Norman ao ambiente doméstico, de modo que o lar é o único meio de interação social de que se é possível.

Vemos essa história contada a partir de Ed Gein, o profanador de sepulturas. É sabido que Norman  foi baseado em Ed e muito de suas características são desse americano que se tornou famoso por suas monstruosidades e falecido em 1984.

Assim como Norman, Gein possuía uma relação abusiva da mãe extremamente religiosa que o impedia de manter interações sociais num mundo repleto de máculas e pecados. Ed cresceu num ambiente superprotegido e tendo sua mãe como a única pessoa digna de confiança, que seria capaz de o defender das mazelas do mundo. 

Como em Édipo que mata Laio, seu pai, e se casa com sua mãe Jocasta, Norman sente verdadeira admiração por Norma. Assume sua identidade psicológica enquanto sintomas do transtorno dissociativo, não enquanto alguém que o faz de modo maldoso, mas enquanto alguém que, desesperadamente, deseja que a mãe viva. E, tal como Ed, veste suas roupas, suas jóias. Norman e Norma se fundem numa relação tipicadamente edipiana. 

Os ataques de fúria não são sem sofrimento. De um lado temos a personalidade de Norma, compulsiva, sem moral e impulsiva, que luta para matar quem quer que seja e proteger o filho amado e, do outro, temos o filho que tenta lutar contra  a mãe, impor limites, dizer não. O conflito é intrigante. Numa linguagem freudiana, ID lutando contra o controle do SUPEREGO, o desejo lutando contra o senso de proibição. O sim contra o não. 

Basta visitar um manicômio e ver de que modo Freddie Highmore interpreta um personagem tão complexo e rico em possibilidades. E também percebe o quanto somos repletos de conflitos. 

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