Uma das dificuldades que os estudiosos de filosofia antiga sentem é em relação às fontes para o conhecimento dos pré-socráticos, isto é, os documentos - doxográficos ou não - que nos trazem notícias dos primeiros filósofos. A título de exemplo, todos os textos sobre os pré-socráticos se perderam, restando apenas pequenos trechos citados por outros autores e, depois, recolhidos e repetidos por compiladores, no decorrer dos séculos. Outras vezes, resta uma oração completa ou um verso completo. Ou ainda, palavras soltas que foram atribuídas a eles. Não sabemos quando, como, quanto e o que escreveram. Não sabemos se davam títulos ao que escreviam.
Assim, temos uma lista do que nos servimos para o conhecimento do primeiro período filosófico:
1. Platão - seja por referências esparsas, seja por interpretação de trechos que atribui a Heráclito, Empédocles, Parmênides, Zenão de Eléia, Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini.
2. Aristóteles - teve por hábito relatar o que disseram sobre determinado assunto para depois refletir sobre o tema. Não sabemos que o que escreveu é imparcial ou se selecionou trechos que o interessavam.
3. Estóicos (especialmente Crisipo) - julgavam-se continuadores dos antigos, como Platão e Aristóteles. Mas, como eles, temos dificuldade em saber se estão apenas citando ou interpretando os trechos selecionados.
4. Plutarco - incluir em seus Ensaios Morais centenas de citações atribuídas ao pré-socráticos.
5. Céticos (especialmente Sexto Empírico) - pelos mesmos motivos dos Estóicos.
6. Simplício - tinha à sua disposição a biblioteca da Academia de Platão e por isso, ainda que escreva mil anos depois dos primeiros filósofos, devemos a ele a principal conservação dos fragmentos pré-socráticos.
7. Hipólito - escreveu refutações de heresias cristãs com a acusação de que defendiam teses pré-socráticas, por ele recolhidas e citadas.
8. Doxógrafos - os que recolheram e reuniram (por assunto ou por cronologia) os fragmentos a partir do discípulo de Aristóteles, Teofrasto, o primeiro doxógrafo.
9. Biógrafos - Socião, que escreveu uma Sucessão de Filósofos (século III aC); Hermipo, que escreveu uma biografia dos filósofos com o título Callimaqueios; Satyros, que escreveu uma Vida dos Homens Ilustres (século II ac); e Diógenes Laércio, que também é doxógrafo.
Ao lado do trabalho doxográfico, um outro tornou-se indispensável para o estudo da filosofia pré-socrática: o dos arqueólogos, filólogos, linguistas, historiadores, antropólogos e críticos de arte. Com eles, os estudos helenísticos alcançaram seu apogeu e rigor suficiente para permitir a compreensão da diferença histórica entre gregos e nós e evitar a ideologia evolucionista do progresso, que coloca os gregos como "infância feliz do Ocidente", com a ideologia relativista do historicismo, que roubava dos gregos o papel de fundadores do pensamento ocidental.
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