No artigo anterior - Bolsonaro e República - referi certa dificuldade de Bolsonaro em aferir relações e uma incansável tentativa de simplificar as explicações. É sempre difícil falar sobre Bolsonaro. Pois bem! Não se trata apenas de Bolsonaro, que serve apenas como ponta do iceberg. O problema maior é a classe média.
A classe média crê que as soluções simples e, principalmente tecnológicas simples, representam a forma com que se deve conduzir a vida. Qualquer problema posto para a classe média que demore mais de cinco minutos para explicar causa desistência. As soluções devem ser superficiais.
A classe média possui dificuldade de entender complexidades e relações. As soluções devem ser trazidas magicamente. Não comporta as contradições, nem variadas narrativas. Ocorre como numa entrevista em que, no final, o entrevistador chega e diz: "então, resumindo é isso!". Mas se for para resumir, não precisa entrevistar.
A tecnologia e a técnica tomam real importância e é entendida como o simples, rápido. Afinal, não se deve perder tempo. Ela deve estar envolvida com o ganho e em negar a luta de classes. E, como a luta de classe se refere a relações complicadas, ela não pode perder tempo. Participa, assim, dessa ideologia.
Bolsonaro participa dessas soluções simples. Tem corrupção? Pega um vingador qualquer aí. É só pegar um cara que queira arrentar com a política e colocar no poder. Tem doença? É só pegar a cloroquina e resolve. Tem uma doença incurável? Vai no João de Deus. Temos pessoas sem teto? Adote 50 filhos, como Flordelis. E o problema da pobreza estava resolvido.
O Brasil tem pobres? É porque faltam Flordelis que, com seu imenso coração, adote as pessoas. Mas o pobre também pensa que devemos ter mais pessoas adotando. Então, o pobre pensa que devemos ter ainda mais pobres adotando pobres para os tirar da pobreza. Porque, afinal, devemos acabar com os sem-teto. O Brasil está salvo!
Os ricos também pensam assim. Devemos ter vários caldeirões do Huck, cada um deles doando uma casinha para um pobre. Ou um lata velha para consertar o carro 85. Os problemas estão resolvidos.
Outra solução simples é o amor. O mundo precisa de amor. O pobre deve amar o pobre. A exploração de pequenos sentimentos é uma Flordelis de cada dia, que envolve sacrifício e amor.
Para resolver o problema da educação basta um diretor de escola compromissado que, para economizar custos, pinte ele mesmo as salas de aula. Precisamos de professores assim, abnegados e com muito amor para resolver os problemas estruturais do MEC. Ele não precisa dormir, não vai para casa, deve ficar 24 horas na escola. O amor resolve! Ou seja, uma técnica pedagógica regida por amor que é capaz de resolver os problemas. Basta todos fazerem isso.
A classe média idolatra o amor, a técnica, o simples. Quando pega um texto com mais páginas, logo se cansa, afirma que é muito idealista, pouco prático. É melhor o milagres, o vingador, Flordelis e Bolsonaro. Tudo que implica a saída do céu para a terra, como um raio lançado por Zeus, é o melhor, o mais prático, o mais propício.
Assim nascem os mitos. Assim nascem os que amam. Verdadeiramente!
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