Nazismo, Esquerda ou Direita?

Entrada de Auschwitz
por Breno Lucano

Nas discussões políticas atuais, tingidas pela polarização entre esquerda e direita no espectro, temos acusações mútuas. Não negamos que o Khmer Vermelho fez milhões de vítimas, mas também não podemos negar que o nazismo foi de extrema direita.

Essa conversa ocorreu no Brasil porque a direita no Brasil é essencialmente desescolarizada. A tese do nazismo de esquerda foi inventada pela direita porque, é claro, ninguém quer carregar nas costas que o nazismo foi o perdedor da guerra e responsável pelo holocausto. Ninguém quer Hitler para ele, o mal do mundo.



Até os anos 80 ninguém assumia ser de direita. Maluf e Collor assumiam ser social-democratas. Atualmente, figuras começam a achar bonito dizer ser de direita. Contudo, personagens mais astutos começaram a dizer que existem dois tipos de direita: a que opta pelo neoliberalismo e a extrema direita, nazi-fascista. Assim, fala-se que se pertence a essa e não a outra parte. Nesse meio surge a figura de Olavo de Carvalho, afirmando que não pertence ao nazismo, mas à direita. Não fazem diferenciações na direita. Em razão da desescolarização, surge essa idéia.

Não é a opção do Estado que define Esquerda e Direita, mas o conceito nascido da Revolução Francesa. Nobres e Clero ficavam à direita na parlamento, enquanto a burguesia e os trabalhadores do campo e cidade ficavam na parte esquerda. O embate eram as questões dos impostos. Burgueses e trabalhadores pagavam impostos enquanto nobres não pagavam. A questão, portanto, não era o Estado, mas a noção de justiça social que estava em seus primórdios. Em outras palavras, somos todos iguais então todos pagam impostos. Ou ninguém paga nada e acaba com o Estado.

Entre os franceses até então nobres e clero não pagavam impostos porque descendiam diretamente de deus, enquanto burgueses e camponeses, não. A sociedade, portanto, se dividia entre privilegiados e os não privilegiados. Quando ninguém é representante de deus e deus é pai de todo mundo, parte do cristianismo se funde ao liberalismo, que é a doutrina do comercio e a igualdade perante a lei. As pessoas são divididas agora por classes sociais, por economia. O mérito agora passa a ser por intelecto ou dinheiro.

Com isso temos novo pedido de justiça social. Todos agora deveriam ter apenas privilégio por intelecto. A burguesia, então, começa a se direcionar mais à direita, enquanto trabalhadores vão para a esquerda. Mas originariamente, o conceito é o mesmo: a esquerda quer mais igualdade, e a direita quer manter os privilégios, menos igualdade.

O nazismo é de direita exatamente por isso. Ele advoga o máximo de direitos e hierarquias para seus mandatários. Ele não é de igualdade, mas de divisões. No nazismo a hierarquia aparece como devoção às causas da nação e também  à capacidade de se mostrar pertencente a uma raça pura - renasce a idéia do privilégio de sangue dos nobres. E os que não eram alemães não eram cidadãos - o judeu, o negro, o deficiente, o cigano, o homossexual, o estrangeiro. E dentro da nação também todos não são iguais. Isso porque o Estado estabelece à hierarquia piramidal. Todo cidadão tem que ser militarizado porque deve fazer parte do partido e deve ser devoto totalmente desse partido.

O nazismo funcionava sob bases capitalistas. Ele não é de esquerda. Não é socialista, apesar do nome. A confusão surge com o nome do partido: Partido do Nacional Socialismo dos Trabalhadores. Chegamos à questão. Hitler faz expropriações como os socialistas diziam que deveriam ser feitas. Ele retira propriedades de determinados segmentos da burguesia. Mas não toda. E não coletiviza essas propriedades. A expropriações são apenas de alguns partidos e vão para o partido ou transferidas para outros proprietários. Que burgueses? Os que são ricos e que não pertencem à nação: judeus.

O Capitalismo de Estado pretendida por Hitler deveria se espalhar por toda a Europa, com o nome de Grande Alemanha. E isso apenas seria possível com o extermínio judaico, porque senão eles iriam novamente se enriquecer e sugar a nação.

Bolsonaro talvez goste de afirmar, como Olavo de Carvalho, que Hitler está expropriando. E o nome do partido é socialista. Mas ele não está coletivizando. Apenas algumas estão sendo expropriadas e enviadas ao partido, cujo chefe é ele.

Hierarquia, sem justiça social, com privilégios para pessoas do partido, expropriação sem coletivização, forte mercado interno e conquista do mercado externo apartir da guerra. Isso é o nazismo.

Se opuseram os liberais e democratas, como americanos e ingleses, e a União Soviética, com uma sociedade comunista, não no sentido de Marx, mas no sentido de uma doutrina chamada estabilismo. As expropriações eram coletivizadas para grandes cooperativas de trabalhadores. Com o tempo as cooperativas foram fechadas e entregues ao Estado, que geria toda a sociedade à base da força, como o nazismo. E idólatra da figura do Estado tanto quanto Hitler.

Até pouco tempo essa clareza doutrinária era óbvia. Até que surgiram Olavo de Carvalho ou o chanceler Araújo  - e até mesmo o Ministro da Educação colombiano - que confundem os conceitos mais básicos.



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