A Queda da Popularidade de Lula: O Destino dos Líderes Populistas na História


por Breno Lucano


A recente queda da popularidade de Lula nas pesquisas revela não apenas um momento político específico do Brasil, mas um fenômeno sociológico recorrente na trajetória de líderes populistas ao redor do mundo. A ascensão e o declínio da popularidade de políticos carismáticos como Lula não podem ser compreendidos sem uma análise estrutural da sociedade e das expectativas que recaem sobre figuras que prometem transformação social.

Lula, um dos líderes mais emblemáticos do Brasil, construiu sua popularidade sobre a promessa de inclusão social, combate à desigualdade e desenvolvimento econômico. Seu retorno ao poder foi marcado por um contexto de crise econômica global, polarização política intensa e expectativas elevadas de sua base de apoio. No entanto, como outros líderes populistas, sua popularidade passou a sofrer oscilações à medida que desafios concretos se impuseram à sua administração.


A sociologia política aponta que líderes populistas frequentemente surgem em momentos de crise, captando o descontentamento popular e canalizando-o para um discurso de transformação. Isso ocorreu com Lula, mas também com figuras como Juan Perón, na Argentina, Hugo Chávez, na Venezuela, e até mesmo Donald Trump, nos Estados Unidos. Todos esses líderes, em maior ou menor grau, enfrentaram um processo de declínio na popularidade quando a realidade econômica e política impôs limites às suas promessas.

No caso brasileiro, a popularidade de Lula se sustenta na memória dos avanços sociais ocorridos durante seus mandatos anteriores. Entretanto, o atual governo enfrenta desafios diferentes, como inflação persistente, dificuldades no crescimento econômico e um Congresso mais fragmentado e hostil. Esses fatores contribuem para o desgaste de sua imagem, especialmente entre os eleitores que depositaram grandes esperanças em sua nova gestão.

A queda da popularidade de Lula também pode ser analisada a partir da Teoria da Frustração Relativa, que explica como as expectativas não atendidas geram insatisfação social. Quando a população espera melhorias rápidas e concretas em sua qualidade de vida, qualquer atraso ou retrocesso na implementação dessas mudanças se reflete diretamente nos índices de aprovação do governante.

Outro aspecto sociológico relevante para entender esse fenômeno é a relação entre populismo e institucionalidade. Muitos líderes populistas, ao chegarem ao poder, precisam equilibrar o discurso mobilizador com a gestão burocrática e institucionalizada do Estado. Esse processo tende a gerar desgaste, pois o populismo se alimenta da dicotomia entre o "povo" e a "elite", enquanto a governança exige negociação, pragmatismo e concessões.

Na América Latina, a trajetória de líderes como Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner exemplifica essa dinâmica. Todos experimentaram altos índices de popularidade no auge de seus governos, seguidos de um declínio progressivo à medida que enfrentavam crises econômicas, disputas internas e desafios institucionais.

A polarização política também exerce um papel fundamental na queda da popularidade de Lula. A sociedade brasileira está dividida entre apoiadores fervorosos e opositores intransigentes, criando um ambiente em que qualquer decisão governamental é interpretada de maneira extrema. Esse contexto impede uma avaliação equilibrada de seu governo, amplificando tanto as críticas quanto as defesas apaixonadas.

Além disso, a comunicação política desempenha um papel crucial. Líderes populistas costumam ter uma relação direta com sua base, utilizando-se de discursos inflamados e estratégias de marketing político para manter sua conexão com o eleitorado. No entanto, a saturação do discurso populista pode levar à perda de sua eficácia, especialmente quando a realidade material da população não corresponde às promessas feitas.

O ciclo de ascensão e queda da popularidade de Lula pode ser comparado ao de outros políticos que dependeram fortemente da identificação emocional com suas bases eleitorais. A desilusão progressiva, mesmo entre seus eleitores históricos, ocorre à medida que as dificuldades econômicas e políticas não são solucionadas com a rapidez esperada.

A economia desempenha um papel central nesse processo. Durante seus primeiros mandatos, Lula se beneficiou de um cenário econômico global favorável, impulsionado pela alta demanda por commodities. Hoje, o Brasil enfrenta um cenário mais complexo, com desafios estruturais que dificultam uma recuperação rápida e robusta, impactando diretamente a percepção da população sobre sua gestão.

Além da economia, as questões éticas e os escândalos políticos também influenciam a popularidade de Lula. O desgaste provocado por anos de investigações e acusações, mesmo que sua condenação tenha sido anulada, ainda reverbera entre parte do eleitorado, reforçando narrativas que alimentam sua rejeição.

Outro fator determinante na queda da popularidade de Lula é a concorrência de novos atores políticos. A emergência de lideranças da direita e do centro reformula o cenário eleitoral, oferecendo alternativas que antes não eram consideradas viáveis. Essa fragmentação política dificulta a manutenção de um eleitorado fiel e coeso.

A mídia e as redes sociais também desempenham um papel relevante nesse processo. Enquanto no passado Lula conseguiu construir sua imagem por meio de uma narrativa favorável da mídia tradicional, hoje enfrenta um cenário digital caótico, onde desinformação e ataques constantes contribuem para a erosão de sua popularidade.

Apesar da queda da popularidade de Lula, é importante ressaltar que isso não significa, necessariamente, o fim de sua influência política. Líderes populistas frequentemente passam por ciclos de desgaste e recuperação, dependendo das circunstâncias e da capacidade de reconfiguração de suas estratégias políticas e discursivas.

O futuro político de Lula dependerá de sua habilidade em lidar com as demandas concretas da sociedade brasileira. Se conseguir apresentar respostas eficazes para os desafios econômicos e sociais, sua popularidade pode ser recuperada. Caso contrário, sua trajetória poderá seguir o caminho de outros líderes populistas que viram sua influência se dissipar com o tempo.

A queda da popularidade de Lula não é um fenômeno isolado, mas parte de um padrão sociológico recorrente. Ao compreender esse ciclo, podemos não apenas analisar o presente, mas também antecipar os desdobramentos políticos futuros, tanto no Brasil quanto no cenário global.

Dessa forma, a trajetória de Lula continua sendo um estudo de caso fundamental para a sociologia política, demonstrando como a ascensão e a queda de líderes populistas estão profundamente enraizadas nas dinâmicas sociais, econômicas e institucionais de cada país.

Terapeuta holístico, acupunturista e massoterapeuta especializado em práticas integrativas.Enfermeiro formado pela UFRJ. Pós-graduado em saúde mental. Humanista. Áreas de interesse: Cinismo; materialismo francês; Sade; Michel Onfray; ética. Idealizador e escritor do Portal Veritas desde dez/2005.

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