por Breno Lucano
Galactus e o Surfista Prateado |
A Marvel cria um ser extremo, além do Bem e do Mal, e que sobrevive e reabastece seu poder consumindo planetas inteiros. Repentinamente, surge o Vigia Surfista Prateado na imensidão do cosmo e se direciona à Terra para avisá-la de que este será o próximo planeta a ser consumido por Galactus. Ao se aproximar, Galactus tem o seguinte diálogo com o Vigia:
Vigia: Escute minhas palavras, destruidor dos planetas! Esse pequeno grão de matéria onde nos encontramos contém vida inteligente! Você não deve destruí-lo!
Galactus: Qual a importância de vidas breves, sem nome... para Galactus? Não é minha intenção ferir nenhum ser vivo! Devo reabastecer minha energia! Se criaturas desimportantes são dizimadas quando eu dreno um planeta, é lamentável, mas inevitável! Vigia, já que você parece conhecer essas ínfimas criaturas, eu sugiro que recomende a elas que se calem... antes que eu as aniquile com um único golpe!
Vigia: Cuidado, Galactus! Elas são menos ínfimas do que você pensa! E o Vigia está do lado delas nesta hora fatídica!
Galactus: Então você está violando sua promessa de nunca interferir nas questões cósmicas! Que seja! Apesar de seu poder... que eu conheço mito bem... não se pode esquecer... eu sou Supremo em mim mesmo... Eu sou Galactus!
Observe nesse diálogo algo oportuno. Embora enquanto ser supremo, como ele se descreve, e apresentar padrões morais além do Bem e do Mal, Galactus justifica sua própria ação distinguindo o que pretende fazer das consequências geradas. Ele necessita consumir planetas para se manter vivo! A intenção não é destruição pela própria glória da destruição, como outro super vilão, como alguém que busca demonstrar seu poderia para outros. Ele é supremo e único, não necessita demonstrar. Sabe que, ao consumir planetas, seres inteligentes podem ser destruídos, mas se tratam apenas de seres menores para o cosmo. Essa destruição se torna um efeito colateral infeliz, mas necessário e não planejado.
Esse raciocínio é frequente entre seres menores que Galactus na tentativa de justificar um ato que trará más consequências. É o mesmo raciocínio usado quando pensamos num político corrupto ou grande executivo. E os jornais mostram de que modo encaramos tais notícias: eventualmente nos deparamos com desalojamentos que devem ser efetuados para a construção de um grande shopping center ou uma via expressa. Também vemos hospitais públicos com qualidade inferior a muitos particulares, dando a entender que, de alguma forma, um morador abastardo possui um status metafísico superior aos desafortunados!
Retornemos à estória. O Surfista Prateado alcança redenção ao encontrar a imagem da bela Alicia, namorada de Ben. Graças à sua beleza, ela alcança e revive nele a compaixão à pretexto de toda solidão do cosmo sem fim. Assim, o Surfista revela que não pretende mais ser o arauto de Galactus. Estabelece outro notável diálogo e, enquanto isso, ambos são surpreendidos pela chegada do Supremo Anulador, única ameaça que pode aniquilar tudo no Universo e deter Galactus. Vejamos:
Vigia: Considere a coragem que eles mostram! Embora ainda estejam na infância, você não pode desdenhá-los! A sua raça... e a minha... não evoluíram de origens assim humildes? Eles não possuem a semente da grandeza em suas frágeis estruturas humanas?
Galactus: Mas e quanto a Galactus? E quando à ilimitada energia que eu preciso absorver para sobreviver?
Vigia: Há outros planetas! Nós dois sabemos muito bem que o Universo é infinito! Destruir uma raça não pode ser a solução!
Galactus: Eu estou cansado! O prêmio não vale a batalha! que o humano entregue a arma, e eu não os molestarei mais!
Reed Richards entrega a Galactus o Supremo Anulador.
Galactus: Então... Pela primeira vez desde o alvorecer da memória... minha vontade foi subjugada. Mas não me ressinto! A emoção é para os seres menores!
Galactus parece, a todo momento, tendo em vista sua substância, adentrar os limites éticos. Galactus necessita consumir matéria animada, em grande escala, para sobreviver. Sua própria existencia parece exigir a morte de outros. E ele aceita isso como um fato além dos julgamentos morais. Claro, essa atitude é análoga à dos homens que, sem ao menos pensar, consomem formas de vida inferiores à nossa raça na cadeia alimentar, com o objetivo de sobreviver. Em boa parte das culturas, alimentar-se de animais é uma fatalidade e, enquanto tal, não é subjugada por padrões morais.
Os budistas e hindus apontam nesse caminho: pensem num dia inteiro em quantas formigas e demais insetos pisamos, geralmente sem perceber. A percepção de quem pisa não interfere na morte que se forma. São apenas formigas! Uma barata entra voando em casa. Corremos para mata-la. É apenas uma barata! Mas poderia ser Galactus falando: são apenas homens!
Toda a Terra e seus habitantes são tão inferiores na cadeia alimentar que Galactus não apenas não os respeita, mas nem os reconhece como seres morais, como ele. Apenas após os discursos com o Vigia é que reconhece e até mesmo mostra algum respeito aos homens. O Vigia esperava que Galactus reconhecesse os homens como seres inteligentes de tal forma que possui uma relação ética com eles, subtraindo, assim, a mera condição de um consumidor de mundos.
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