Lucifer é uma daquelas séries da Netflix que possui algo a nos dizer em termos filosóficos. E esse dizer não se restringe à filosofia da religião, mas à ontologia e a ética. Assim, devemos fazer a seguinte pergunta: qual a ética de Lucifer?
Michel Onfray pode ns ajudar a contextualizar e contornar o personagem da Vertigo. Seu famoso Tratado de Ateologia nos dá a dica: em oposição a um pensamento francamente transcendente, o autor francês constitui uma filosofia corpórea e sensual.
Lucifer parece se encaminhar nessa direção. Temos um personagem manipulador, envolvente, que estimula as pulsões e aflora os apetites. Os desejos devem ser respeitados, em oposição a um SUPEREGO que nada tem a dizer aos homens. O ID envolve toda a antropologia que realmente importa ao senhor das trevas.
O corpo é a única entidade existente, ainda que Lucifer seja uma entidade essencialmente transcendente. E ele é tão corpóreo que perde sua imortalidade. Passa a viver entre os homens e os estimula aos excessos, embora essa não seja exatamente uma abordagem onfrayriana. Os excessos, cada um deles, devem ser vividos,desfrutados, fruidos. E vivenciados porque justamente corpóreos.
Lucifer é um personagem do sensualismo. Cores, sabores, odores, contornos, tudo quanto dizer respeito ao corpo e suas conformações lhe dirá respeito. Em oposição, temos seu irmão angelical que a todo custo tenta persuadir Lucifer a retornar ao Inferno, seu lugar cosmológico.
Amenadiel tem outra antropologia. Personagem sério, sisudo, envolto com as preocupações de seu Pai e O obedece em tudo. Noutras palavras, outra face de Lucifer. Seu oposto.
Lucifer é o personagem do riso. Sempre sorridente, demonstra a alegria de viver, de se fazer no mundo, de circunscrever sua história entre os mortais. Segundo Onfray, de se fazer afronta ao sobrenatural, sempre enraigado de culpa, desejos reprimidos e do imperativo do "não". Lucifer é, em última análise, o personagem do "sim".
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