por Breno Lucano
Bentivenga de Gubbio, italiano do século XII, adere primeiro ao movimento franciscano, de quem se afasta após algumas debater algumas teses sobre filosofia e religião: a possibilidade que tem o homem de fazer o que quer; a inexistência do inferno. o risco de que a alma perca o desejo nesta vida.
Bentivenga se pergunta se um homem que conhece carnalmente uma mulher fora do casamento e com o único objetivo de divertimento pode receber no dia seguinte a comunhão. A Igreja responde formalmente que não: ambos estão em pecado e correm o risco da danação eterna caso não se arrependam. Em contrapartida, afirma que Deus pode fazer com que o pecado não exista. Em outras palavras: que Deus pode ir contra a Igreja e, portanto, contra as autoridades eclesiásticas.
O ex-franciscano é adepto do determinismo radical. Tudo o que acontece no mundo provém de Deus. As folhas que caem das árvores ou a noite de amor de dois amantes. Nem a queda das folhas nem as carícias provém do domínio moral, do bem ou do mal. O que acontece obedece à vontade de Deus, que não permitiria nada de mau. Dessa forma, Bentivenga ensina a ausência do remorso, a inocência do devir, o júbilo sem a ameaça cristã.
Propõe duas teses:
1. apatia: não há necessidade de participar do sofrimento de Cristo ou do sofrimento do próximo. O sábio deve, antes, optar pelo sereno cumprimento da vontade de Deus sob todas as suas formas, fruindo o destino;
2. impecabilidade: a graça e a caridade são substanciais ao homem. Logo, beber, comer, copular, todas são atividades indiferentes.
Bentivenga é acusado de heresia e preso no verão de 1307, em Florença, onde passa o resto de seus dias, junto com outros companheiros.
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