Euclides de Mégara |
por Breno Lucano
Euclides de Mégara (citado em Diógenes Laércio, em II: 106 em diante), o fundador da escola filosófica dos Megáricos, foi aluno direto de Sócrates, cuja morte presenciou. Possivelmente foi aluno também de Parmênides e, mais tarde, deu abrigo ao jovem Platão. Seus esforços foram ao de tentar unificar o pensamento de de Sócrates (Deus, Sabedoria, Bem) ao de Parmênides (Uno).
A unidade proposta por Euclides combatia frontalmente Heráclito e suas mudanças e devir, mas também Platão com a pluralidade das idéias e essências inteligíveis. Afirmava a unidade da virtude, ainda que designada por vários nomes.
Recusando a multiplicidade empírica tanto quanto a multiplicidade das essências, Euclides também nega a dialética, já que esta se baseia na discussão dos contrários e, portanto, deveria assumir a multiplicidade.
Os sucessores de Euclides desenvolveram raciocínios lógicos semelhantes aos dos sofistas e de Zenão de Eléia com o objetivo de combater o múltiplo. Eubúlides desenvolveu o conhecido "argumento do mentiroso", reproduzido por Cícero: "Se dizes que mentiste, e de fato mentiste, dizes a verdade porque mentiste, ou, então, mentiste porque dizes o falso e, nesse caso, dizes a verdade ao dizeres que mentiste". Com tal jogo lógico, ele invalida o princípio lógico da contradição, pois ao mesmo tempo mentes e não mentes.
Outro aluno de Euclides, Estilpão, desenvolve o argumento conhecido como "sorites do monte de areia". Nele se indica a impossibilidade da predicação quando o predicado é diferente do sujeito. Diz que se tirarmos um grau de areia de um monte, este não perde sua identidade de monte e, por conseguinte, não pode desaparecer se tirarmos seus grãos um a um; portanto, não há monte de areia como multiplicidade de grãos. O argumento de Estilpão se baseia no princípio de identidade, onde uma coisa será sempre idêntica a si mesma e que não podemos dizer algo sobre essa coisa senão ela mesma. Por exemplo, não podemos dizer "o cão corre", uma vez que a identidade do sujeito "cão" impede que lhe seja atribuído um predicativo, "o correr", diferente dele. Por outro lado, se "cão" e "correr" fossem idênticos, não se poderia dizer "o cavalo corre" nem "o leão corre", uma vez que, neste caso, estaríamos dizendo que o cavalo e o leão são cães.
Como é possível observar, a expressão "socráticos menores" não é muito apropriada para avliarmos a importância desses filósofos, pois os paradoxos de Euclides, Estilpão e outros megáricos não cessam de propor reflexões posteriores aos filósofos até a idade contemporânea. Assim, poderemos concluir como dirá Chauí, "talvez a designação de menores se deva ao fato de terem afirmado a impossibilidade do conhecimento teorético ou especulativo e de terem escolhido o ideal do sábio impassível diante do mundo ilusório, sereno diante da inutilidade da especulação."
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