Imperador Adriano




Publius Aelius Traianus Hadrianus
, Imperador de 117 a 138 d.C.


Mais conhecido apenas como Adriano, foi imperador romano de 117 a 138. Pertence à dinastia dos Antoninos, sendo considerado um dos chamados Cinco Bons Imperadores.

Nascido em Itálica na atual Espanha, ou em Roma, na Itália, Adriano era descendente de colonos romanos domiciliados no Sul da Espanha e primo de Trajano, tendo sido nomeado por este para uma série de dignidades públicas que o fizeram aparecer como herdeiro presuntivo deste imperador. À época das guerras contra os partas, durante o reinado de Trajano, era governador da Síria.




Imperador

Logo após a morte de Trajano, consta que teria sido adotado por este em seu leito de morte como filho e sucessor na dignidade imperial. Muitos dizem, no entanto, que tal adoção teria sido uma farsa engendrada pela viúva de Trajano, a imperatriz Plotina. Seja como for, a ascensão de Adriano ao trono imperial foi imediatamente seguida pela execução sumária de quatro importantes ex-cônsules - entre eles o príncipe mouro e comandante de um contingente de cavalaria moura no exército romano Lúsio Quieto - expoentes da política de conquistas militares de Trajano. Estas execuções, ordenadas pelo imperador sem o acordo prévio do Senado, fizeram muito para alienar a velha assembléia do imperador e deram o tom da política imperial subseqüente, que foi dirigida no sentido de ampliar a base de apoio do Principado para além de Roma, mediante o contato direto do imperador com as elites provinciais, em oposição à velha política de manutenção de Roma como cidade imperial hegemônica.


O Império Romano sob Adriano

Talvez por entender que o Império esgotara sua capacidade de expansão, Adriano abandonou as conquistas de Trajano, adotando uma política nitidamente defensiva, optando pela via diplomática para resolver questões relativas ao relacionamento com povos vizinhos. Na prática, isso significou renunciar às conquistas recentes - e, a esta altura, pouco mais do que teóricas - de Trajano na Mesopotâmia. Adriano também retificou os limites de uma outra conquista de Trajano, esta já antiga, a Dácia (atual Roménia)cedendo aos sármatas a planície do Baixo Danúbio e concentrando a ocupação romana na região da Transilvânia, protegida pela barreira natural dos Cárpatos.

Segundo Dião Cássio, Adriano teria também ordenado a demolição da ponte construída por Trajano sobre o Danúbio, de forma a evitar uma invasão das províncias danubianas tradicionais a partir da Dácia.

Com o intuito de proteger as demais fronteiras romanas contra os bárbaros, construiu grande número de fortificações contínuas na Germânia e na Inglaterra (por exemplo, mandou construir, em 112, a chamada Muralha de Adriano, que marcou durante séculos a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia).

Adriano implementou uma profunda reforma na administração, transformando o Conselho do príncipe um órgão de governo, e procurou unificar a legislação (Édito Perpétuo, 131). Durante o seu reinado, foi um viajante incansável, visitando as várias províncias do império: parece ter passado 12 anos do seu reinado fora de Roma.

Letrado, Adriano era um grande admirador da cultura grega, sendo um dos responsáveis pela propagação do helenismo no mundo antigo. Realizou grandes viagens pelo império, realizando obras e melhorando a infra-estrutura e a economia das províncias. Como gesto simbólico, ordenou uma série de emissões monetárias honrando as províncias, que eram representadas nestas moedas por alegorias femininas que lhes davam uma personalidade moral distinta. Estas alegorias seriam mais tarde representadas como uma série de estátuas que, após a morte de Adriano, seriam colocadas no seu templo em Roma.

Foi o arquiteto responsável pela construção do Panteão de Roma reconstruindo um antigo prédio muito menor erguido por Marco Vipsânio Agripa, porém mantendo a velha fachada com o nome do antigo construtor. Construiu perto de Roma a grande villa que leva seu nome (Vila de Adriano).


Foi um imperador ambulante, viajava sempre e por onde passava ia levantando cidades,construindo estradas, erigindo monumentos. Estes monumentos tinham um significado político: sua construção geralmente significava uma aliança em pé de igualdade abstrata entre Roma e a cidade onde eram erguidos. Assim, Adriano mandou completar em Atenas a construção de um gigantesco templo a Zeus, o Olympeion, cuja construção já se arrastava desde a época do tirano Pisístrato, do século VI a.C.. Nas vizinhanças desta construção, organizou um bairro dentro do estilo romano de urbanismo, de maneira a poder igualar-se a um rei mítico de Atenas, Teseu. Esta Atenas "romana" era separada da antiga cidade por um pórtico na entrada do qual estava inscrito: "Esta é a cidade de Adriano, e não a de Teseu".

Ao mesmo tempo, Adriano fez de Atenas a sede de um fórum regional de discussão de assuntos comuns das cidades helênicas, o Panhellenion (131-132). Esta reelaboração da legitimidade política do império em torno, não mais da hegemonia da cidade de Roma e do seu Senado e da Itália, mas como um Império ecumênico[1] dotado de uma cultura helênica comum, que prenunciava já de certa forma o Império Bizantino, o que permitiu ao historiador francês Paul Veyne chamar Adriano de "um Nero bem sucedido", que soube transformar sua mania da cultura helênica num programa político[2] Precisamente por isto é que tal política encontraria sua maior contestação entre o povo que havia oposto, historicamente, maior resistência a esta matriz cultural grega: na Judéia, os judeus reuniam-se preparando uma nova (e última) revolta contra o elemento greco-romano.

Essa revolta estalou porquanto Adriano mandara recontruir Jerusalém, destruída por Tito em 70 d.C., como uma cidade grega, e os judeus de então sentiam que a sua cidade sagrada estava sendo profanada por estrangeiros. De fato, em toda parte surgiam estátuas, banhos públicos, centros ruidosos de vida profana. Durante o final do reinado de Adriano, um movimento armado anti-romano estourou no interior da Judéia, comandado pelo rebelde messiânico que viria a ser conhecido pelo nome de Bar Kochba (o Filho da Estrela).

Assim que Adriano soube do levante dos judeus, determinou que as legiões localizadas nas províncias vizinhas atacassem os judeus e os destruissem. Não se sabe com certeza se Adriano participou ativamente da guerra judaica, e em que medida. O certo é que esta guerra foi longa e terrível, durou mais de dois anos e as tropas romanas após muitos revezes, muitas vezes cruentos, foram encurralando os judeus em seus subterrâneos das montanhas onde foram sendo dizimados. O exército romano sofreu um tal desgaste que Adriano teria, segundo Dião Cássio, eliminado dos seus despachos militares ao Senado a fórmula usual de abertura: "o Exército e o Imperador vão bem".

Os sobreviventes foram vendidos como escravos. Roma decretou a exclusão dos judeus de Jerusalém, que foi reconstruída como cidade grega e passou a chamar-se Aelia Capitolina .No lugar do antigo templo judaico ergueu-se a estátua de Zeus e junto ao Gólgota (onde foi crucificado Jesus) ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite. A antiga província da Judéia passou a chamar-se Palestina - forma de tentar apagar a memória da presença judaica na região pela recordação dos filisteus, também antigos habitantes da região nos tempos bíblicos.

Por isso no Talmud, essa revolta ficou sendo chamada "a guerra do extermínio". De fato, por mais que a diáspora judaica tivesse-se iniciado séculos antes de Adriano, e que as narrativas sobre a guerra judaica tenham-se cedo revestido de características legendárias, é certo que a guerra eliminou definitivamente qualquer possibilidade de renascimento de um judaísmo centrado no Templo de Jerusalém e na sua casta sacerdotal, dando origem, assim, ao judaísmo como uma expressão puramente religiosa e cultural, e não mais política, situação esta que se perpetuaria até o surgimento do sionismo no século XIX.



Morte e sucessão

Adriano morreu em 138, em Roma. Seu corpo foi depositado num mausoléu, que veio a ser o castelo de Santo Ângelo, em Roma. A sucessão de Adriano foi complicada: a princípio ele havia pensado em adotar como filho e sucessor um dos seus muitos antigos favoritos (tal como o adolescente grego Antínoo, foto ao lado), Lúcio Élio Vero - e efetivamente o fez, mas tendo Élio falecido prematuramente, Adriano acabou por adotar o senador T. Aurélio Fúlvio Boiônio Antonino - que viria a ser conhecido como o imperador Antonino Pio - sob a condição, no entanto, de que este adotasse como seu filho e sucessor o parente distante de Adriano, o jovem Marco Ânio Vero, o futuro imperador Marco Aurélio, assim como o filho do falecido Lúcio Ceiônio, Lúcio Vero, que viria a ser co-imperador junto com Marco Aurélio. Entrementes, Adriano acabou por ordenar o suicídio de outro dos seus parentes, o nonagenário senador Lúcio Júlio Urso Serviano - ou Serviano Urso - que ele desconfiava buscar a sucessão imperial para seu neto (que também foi obrigado a suicidar-se). Tal decisão fez muito para confirmar a alienação mútua entre Adriano e o Senado romano, que levaria, após sua morte, a uma tentativa fracassada do Senado de invalidar seus atos, o que foi impedido por Antonino Pio. A hostilidade duradoura entre o Senado e Adriano seria reconhecida pelo seu contemporâneo mais jovem, o senador, orador e correspondente de Marco Aurélio, Frontão, que comparava Adriano ao deus da Guerra Marte e ao deus dos mortos Dis Pater - ambos deuses que se deve tentar apaziguar, mas sem poder realmente amá-los[3].


Como prova das políticas autoritárias de Adriano, deve ser assinalado que credita-se a ele a criação de um corpo de polícia política no Império Romano, os frumentarii, cujos agentes foram destacados do corpo de funcionários imperiais dedicados à supervisão do abastecimento de trigo da cidade de Roma, daí seu nome em latim.


Bibliografia:

1. ↑ Cf.Paul Veyne, L'Empire Gréco-Romain, Paris, Seuil, 2005, ISBN 2-02-057798-4, pg.51, nota 163

2. ↑ Cf. Veyne, Le Pain et le Cirque, Paris, Seuil, 1976, ISBN 2-02-004507-9, pg.654.

3. ↑ Cf. Veyne, L'Empire Gréco-Romain, op.cit., pg.35, nota 93



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