por Breno Lucano
Recentemente ouvi um comentário do tão falado filme da época: 50 Tons de Cinza. Uma garota muito mau comida - ou que nada entendeu do filme! - afirma em bom tom que não aceitaria se submeter às cenas apimentadas dos personagens, especialmente às de sadomasoquismo. Que seja!
Falei sobre esse tema algumas vezes. E é sempre bom recordar. Possivelmente essa garota, imbuída de pensamentos castradores e moralistas, reflete a sexualidade dessa forma. Pessoalmente, também não me agrada muito o sadomasoquismo. Mas devemos olhar sobre outro angulo.
Todo sexo, para ser sexo, necessita de um teor subjetivo de submissão, de controle de um sobre o outro. Esse controle não significa necessariamente agressão física ou moral. Pode ser simplesmente a emissão de palavras picantes em alguns momentos, algo capaz de alimentar a imaginação e apetecer a libido. Mas, ainda assim, trata-se de submissão. E violência!
A configuração inconsciente da sexualidade pode ser dividida em Marte de um lado, representanto o homem, o poderia, aquele que tudo pode, o detentor da última palavra, do pênis; e Vênus do outro, representando a mulher, a maternidade, aquela que se submete, a moralizadora dos costumes do lar, cuidadora dos filhos. Eros é aquele que une os dois pontos. Marte subjuga Vênus, sua esposa, faz dela o que quiser; Vênus se submete ao seu marido como um dever libidinoso, imaginativo, impulsivo, fora de qualquer razão e controle.
Em outras palavras: não há sexo sem putaria. É como se, aos olhos moralistas, papai encontrasse mamãe numa bela noite e, num ato de puro e inocente amor, o filho fosse gerado, constituindo um lar harmonioso e abençoado. E castrador. Mas a libido passa por outros rumos.
Os verbos imperativos se fazem sempre presentes - chupar, foder, punhetar, dar - propõem maior poder psíquico que "tocar com grande amor". A linguagem tem esse poder, o de tornar em putaria aquilo que é moralizador, repressor. E a putaria é a instância última da vida.
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