Por Prof. Evaldo Pauli
Vida. Aponta-se para Filon como tendo sido o maior representante da filosofia neoplatônica pitagorizante judaica. Viveu entre os anos 20 a.C. até 40 depois, tendo exercido sua influência exatamente quando pregavam Jesus e seus Apóstolos.
Dele escreveu encomiasticamente Eusébio de Cesareia (c. 265 – 340) primeiro historiador da Igreja cristã:
"Nos tempos deste Imperador (Tibério) floresceu Filon, varão tido em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios. Era hebreu de nascimento, não cedendo a nenhum em Alexandria pelo esplendor e dignidade de sua linhagem. A realidade o pôs em evidência quando trabalhou nas disciplinas divinas e pátrias.
Foi notável em filosofia e letras humanas; refere-se que, tendo cultivado principalmente as filosofias platônica e pitagórica, superou a todos os do seu tempo" (Eusebio, História eclesiástica, II, 5).
Alcançou elevada consideração por parte da colônia judaica de Alexandria. Dadas as restrições que esta sofria, chefiou uma delegação ao Imperador Calígula, enviada a Roma pelo ano 40. Esta movimentação significa que se tratava de um filósofo judeu viajado, bem informado e ainda de prestígio social.
Obras. Conservam-se de Filon vários escritos: figura entre as melhores edições a de Cohn - Wendland, Philonis opera, 7 vols. 1896 ss.. O tratado, que lhe é atribuído, Sobre a incorruptibilidade do mundo.
Contava Filon com uma fonte nova e original para a filosofia, a Bíblia, que haveria muito especialmente de lhe garantir uma noção peculiar de Deus.
Nova exegese. Para interpretá-la, adotou o método alegórico, que seria também o de Orígenes. Já os estóicos haviam dado a religião popular uma interpretação alegórica. Acreditava por isso e por outras razões Filon que os antigos filósofos gregos tivessem tido conhecimento da Bíblia, razão porque punha em Moisés a origem da filosofia. Zenão, diz ele, teria inspirado o seu estoicismo na legislação judia (Quo omnis probus liber 8 II 953 M).
Mas era o contrário que ocorria; o mesmo Filon canalizou para o judaísmo o estoicismo de Zenão, a sua concepção do Logos a atuar sobre a matéria e sua moral rija. A austeridade bíblica não tem o mesmo sentido; dá-a agora Filon.
Teologia negativa. Deus para Filon, é o inefável, o inexprimível, o absolutamente transcendente; é possível concebê-lo e expressá-lo apenas de maneira negativa; dele se negam todas as qualidades empíricas; exprime-se, pois, em termos totalmente abstratos como quando se considera em abstrato o ser; é essa via da excelência elevada ao máximo.
Cultiva, portanto, Filon uma Teologia negativa, procurando saber aquilo que Deus não é. Mantém o ponto de vista neopitagórico de que a divindade não pode tomar contato direto com a matéria. Esta também é eterna. Entretanto, pretende Filon manter a tese bíblica da criação do mundo. A criação consistiria na organização da matéria, a saber na conversão do caos em um mundo organizado, ou seja no cosmos.
A atuação de Deus, não podendo ser direta, se efetua através do Logos, que é o termo com que Filon, designa as forças intermediárias entre Deus e a matéria. Estas forças intermediárias se afiguram, ora como propriedades de Deus, isto é, como idéias e pensamentos, ora como mensageiros e demônios (anjos) que executam as ordens divinas.
Impessoal, o Logos coincide, ao que parece, com a sabedoria e a inteligência de Deus, concebida como algo um tanto separada dele, quase como um segundo Deus. Filon compara o Logos, à palavra; tem esta, num só tempo, um lado sensível e uma significação de ordem inteligível; assim o Logos divino tem contato simultâneo com Deus e com a matéria (Vita Mos., II, 127). Enquanto é sentido da idéia arquética é e enquanto ser divino no mundo é idéia manifestada.
As forças, de que trata Filon, têm uma evidente afinidade com as idéias arquétipas de Platão, que se refletem sobre a matéria do mundo e lhe dão forma; a mesma afinidade tem com a força imanente que os estóicos punham no mundo com a função de organizá-lo, que chamavam de sopro, providencia, fato, lei universal, razão universal, razão seminal.
A diferença ocorrida porque os estóicos não admitiam senão este principio, imanente, sendo, pois monistas, quando Filon punha acima dele a divindade transcendente. Parece também que Filon dava lugar a que se interpretassem os anjos da religião judaica como manifestações do Logos.
Coere a doutrina de Filon com um dos dizeres iniciais da Bíblia:
"O Espírito de Deus pairava sobre as águas"(Gen., 1, 2).
Este Espírito de Deus não é a pessoa do próprio Deus, mas o sopro divino como um poder atuante.
Não custa entender, que a partir de tais enunciados e das doutrina dos platônicos pitagorizantes pudessem formar-se doutrinas multiplicadoras das pessoas divinas, como finalmente ocorre na doutrina cristã da Trindade.
O Espírito Santo, entendido como pessoa, aparece a primeira vez, com este sentido evidente, nas expressões de Jesus: "Ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus, 28, 20).
A matéria é o principio do mal e a causa de pecado. Está a alma, - de origem divina e de natureza imaterial, - presa ao corpo material por sua própria culpa.
Não consegue desfazer-se por si só da matéria, senão com ajuda divina.
O conhecimento é a virtude própria da alma, e por meio dele se encaminha para a união mística com Deus.
O homem perfeito poderá chegar a um estado, que ultrapassa a própria consciência, quando recebe revelação e graça especial da divindade; é o que se chama êxtase.
As revelações da divindade, opinou Filon, podem ter ocorrido não somente aos judeus, mas também aos filósofos gregos.
Não importa discutir primeiramente o sentido da afirmação de Filon. Ela implica em aceitar a revelação como um estagio final a que se encaminha ordinariamente a alma em ascensão.
Não seria, pois, a revelação um dom gratuito especial conferido por Deus excepcionalmente e não um acontecimento natural. Diferentemente, dirão depois algumas teologias, como por exemplo a católica, que a revelação é um acontecimento inteiramente sobrenatural. A teologia cristã dirá ainda que a revelação pública se teria dado apenas no circulo judaico, e que as demais, possíveis em qualquer época e nação, se poderão dar em qualquer tempo; mas sempre milagrosamente, sem mérito resultante da perfeição que a criatura porventura alcance.
Com referência à parte afetiva da alma, segundo Filon, toda ela é intrinsecamente má, porque presa à matéria. O apaziguamento e a educação dos afetos não resolve a questão, portanto. Importa desfazer-se dos afetos, destruindo-os.
Este é o lado eminentemente estóico do neoplatonismo e que Filon acentuou. Se Platão admitia, como Sócrates, a hierarquia dos valores, agora se estabelece a oposição do espirito e da matéria como bem e mal simplesmente.
"Filon se mostra quase totalmente estóico na ética... é certamente um estóico da mais estrita observância... Mais ainda, muitas doutrinas estóicas se entendem cabalmente só graças à exposição e comentário que delas faz a fundo Filon" (Windelband, Hist. da fil. ant. nr. 50, pag. 385).
Adotou Filon o princípio estóico fundamental da impassibilidade e que nos traria a felicidade.
Aparece também em Filon a distinção estóica entre obrigação e ação reta; esta seria a ação do sábio, conhecedor dos fins em que se enquadra, podendo então agir a partir da equidade; aquela seria a obrigação como poderia ser cumprida mesmo pelo ignorante, que atende à obrigação legal.
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/portugue.html
Caro Breno infelizmente não foi um acaso eu vir a ser o primeiro a comentar este artigo em respeito às concepções de Filon. Espero voltar e deixar uma opinião em favor do postulado, haja vista que tenho estudado a filosofia filoniana desde outros tempos. No entanto deixo abaixo um endereço onde se pode apreciar um exemplo da impassividade filoniana.
ResponderExcluirhttp://www.poesias.omelhordaweb.com.br/pagina_autor.php?cdEscritor=3729&cdPoesia=114947
Agradeço por sua contribuição, Demerval.
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