Antropologia Aureliana

A doutrina em que Marco Aurélio procura renovar-se, todos os dias, é o estoicismo ético, ao qual aderiu, com todas as veras de seu coração. Já no Livro I, agradece aos deuses, "por ter adquirido gosto pela filosofia e não ter caído nas mãos de um sofista nem ter-se aplicado aos silogismos e nem ter perdido tempo com o estudo da física celeste" (I, 17). Em sua moral, paradoxalmente, aproxima-se do cristianismo, que, no entanto, manteve proscrito e, de certo modo, menosprezou. Porém, não sejamos benevolentes demais com o grande imperador: ele tinha disposições naturalmente cristãs, sem coincindir, no entanto, com a doutrina de Cristo. Mas, não há que negar: Marco Aurélio possuía uma elevada consciência moral, em face do império, laborando em terríveis dificuldades. Pautava a sua conduta por um verdadeiro imperativo categórico (Mondolfo, p. 456).


Nas máximas do Pórtico, encontrou Marco Aurélio a norma de seu comportamento e o pábulo para a sua alma. Dentre todas, a mais importante é "viver segundo a reta razão". Cumpre observar que o estoicismo ético por ele professado é um estoicismo eclético, respingando, dos autores do Pórtico, aquilo que mais lhe convinha à sua concepção de homem.

Três partes encerra a antropologia aureliana: o corpo, o pneuma e o espírito (XII, 3). Ao corpo pertencem as sensações e os movimentos da carne, denominados prazer e dor; ao pneuma, as representações (imaginações) e os impulsos (hormaí = instintos), comuns aos animais. O pneuma desempenha as funções vitais. O espírito ou nús (também chamado lógos) é o portador do pensamento, da autonomia da alma. Essa divisão não é de todo estóica, mas aureliana, porquanto o estoicismo legítimo adotava o dualismo sôma-sêma. Nús é o daímon, aparentado com Deus. O corpo,
ensina Marco Aurélio, não deve ser desprezado (como proclamava Sêneca), mas há que estar sob o constante domínio do espírito. 


ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Estoicismo Romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: Edicucrs, 1996. p. 98-99


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Enfermeiro formado pela UFRJ. Pós-graduado em saúde mental. Humanista. Áreas de interesse: Cinismo; materialismo francês; Sade; Michel Onfray; ética. Idealizador e escritor do Portal Veritas desde dez/2005.

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