por Breno Lucano
Para a compreensão do capitalismo, temos Marx. Mas também Flora Tristan. Nem tanto O Manifesto Comunista, mas Passeios por Londres, que possui um subtítulo propício: A Aristocracia e os Proletários Ingleses. A segunda edição, de 1842, será intitulada A Cidade Monstro, e começa com a seguinte dedicatória: "Para as classes operárias".
Operária, viajou pela Europa e Peru. Sexualmente brutalizada pelo marido, o abandona. Mas leva um tiro do amado rejeitado. Isso rende um processo que prepara a união dos trabalhadores explorados e sua constituição em "classe operária", invocando o fim da miséria dos povos.
Tristan não se fecha numa biblioteca, como Marx. Seu trabalho é empírico, trabalha em campo, encontro físico da miséria. Visita pessoas, convive, conversa. Diariamente vai a uma fundição dialogar com operários, fala com moradores de pardieiros, encontra-se com prostitutas, convive com doentes mentais de um asilo de alienados.
Quer o fim da miséria e a felicidade coletiva. Para tanto, constata a natureza execrável das condições d trabalho dos operários, destaca o papel brutalizador para o corpo e o espírito. Em sua leitura, não moraliza. Quando aborda a prostituição, verifica que as mulheres vendem o corpo por que não foram educadas nem profissionalizadas, porque são "proletárias dos proletários". Acusa algumas medidas para a precarização: desigual distribuição das riquezas, proibição da herança para mulheres, ausência de direitos cívicos, inexistência de empregos remunerados, falta de compaixão por parte do clero anglicano.
Nas prisões, outros problemas. Temos no cárcere uma escola do crime. Mas é preciso agir sobre as causas da criminalidade, ao invés de punir o crime em si. Encoleriza-se com a disparidade das penas, a injustiça da justiça, clemencia para os poderosos, severidade para com os miseráveis. Luta contra as torturas e os maus-tratos inflingidos aos reincidentes, rejeita a exploração dos prisioneiros, milita pelo fim da pena de morte.
Propõe outro sistema social, que não seja o capitalismo selvagem. Quer a união operária, o mutualismo, a força da coletividade, o programa socialista radical. Dela, temos as seguintes frases escritas em A União Operária, em 1843, cinco anos antes de Manifesto do Partido Comunista: "proletários, uni-vos", é preciso realizar "a união universal dos operários e das operárias", pois "a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores".
Na vida e na obra, Flora Tristan defende o bem-estar geral, a liberdade, a emancipação da mulher. Socialista, pois. Mas também feminista em pleno século XIX.
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