por Breno Lucano
Acostumados como estamos a pensar o modo cristão, sempre mitigados pela possibilidade de escolha, Holbach traça caminhos próprios. A partir dele, o homem perde sua capacidade de opção e passa, a patir daí, a ser guiado por aquilo que a natureza determina. Por bem ou por mal, seremos conduzidos pela ordem natural dos acontecimentos e das constituições internas que nos formam e externas que infundem sobre nós. Dito de outra forma: o determinismo preenche o vácuo formado pelo vazio da escolha.
Poderemos optar por variadas coisas. Poderemos escolher entre o verde e o amarelo, um lugar à outro, um partido político à outro. Contudo, resta a investigação que aponta se isso realmente foi fruto de uma escolha. Talvez um lugar traga mais lembranças de bons momentos que outros. Pode ser que um prato específico seja mais apropriado à sua cultura: nem todos toleram comer formigas como no norte. Há quem diga que a escolha entre esse partido e outro seja ideológica. Que seja!
O fim, entretanto, das possibilidades livres de escolha nos faz refletir sobre o passado tendo em vista o futuro. Os eventos que se seguiram à Revolução Francesa não foram esperados por Holbach, embora estivessem previstos na teia do determinismo. Um oráculo, por melhor que fosse, talvez não tivesse conhecimento. Mas as estruturas internas da sociedade em que Holbach viveu desembocaram no Iluminismo e na queda do rei.
O Barão denunciou em seu Sistema da Natureza a forma como as superstições e o sobrenatural dominavam sua sociedade. Qualquer estudante de história conhece o poderia da igreja e sua associação ao trono. Também conhece sobre a vida na corte, ouviu muito falar de seus professores dos poderosos senhores feudais e da vida concupiscente e rica dos mosteiros. E por outro lado, num triste contraste, a miséria que rondava a maioria dos vassalos. Essa é a triste história do binômio Rei-Igreja. Mas poderia ser Presidente-Igreja.
Mudam os atores sociais. As estruturas internas permanecem, possivelmente por força do determinismo. Não há nada que eu possa fazer, ou você. A sociedade possui motor próprio, toma suas próprias direções baseadas numa dada cultura política.
Na sociedade de Holbach tínhamos as duas alas conservadoras unidas para o bem-estar de si próprio: a Igreja e o Estado. O governo do PT, embora não seja comunista e, por isso, não dissemine ateísmo, mantém certa distância dos pregadores. O único lugar que sobrou para eles foi no Congresso. E lá fazem o que querem para se manter no poder, como um Rei que nem suspeita que um dia fosse parar na guilhotina.
Holbach fala da Natureza como fármaco para esses males, associada à razão capaz de dissipar todos os medos e incertezas. O Iluminismo garante ao autor a certeza de uma razão forte, capaz de propor novos governos, à sombra dos antigos gregos. Mas, mesmo que por força do determinismo, a atualidade repete que que se passou, pode ser que a razão tenha fracassado ante sua hercúlea luta contra as superstições.
De certa forma, o binômio Igreja-Rei foi substituído pelo binômio Executivo-Legislativo. O primeiro andavam juntos; o segundo, não podendo andar mais juntos, apenas caminham, apesar da existência um do outro. Uma coisa apenas é certeira para Holbach: onde há Deus não pode haver virtude e utilidade pública.
O passado mais uma vez se repete. O Rei é guilhotinado e um Robespierre assume o comando. E, se for realmente fatal que nosso Rei perca a cabeça, resta-nos saber quem será Robespierre.
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