Monument à Bossuet, élevé en 1820; détail . Cathédrale Saint-Etienne de Meaux. |
Por Breno Lucano
Maquiavel conduziu seu nome para a posteridade com o famoso O Príncipe. A manutenção do poder do monarca foi sua preocupação principal, mas não apenas dele. Outro teórico que reflete sobre o príncipe é Bossuet, mas o faz por vias diferentes de Maquiavel.
Para Bossuet o príncipe toma a envergadura dos grandes reis das cruzadas, à exemplo de Luís IX da França e Balduíno IV de Jerusalém. Sua soberania é verticalizada, está vinculada com a vontade que mantém o mundo. Sua realeza é instrumento da intervenção divina. Isso ocorre para orientar a uma sociedade que deve ser direcionada para o bem público.
Afirmou Mircea Eliade, em O Sagrado e o Profano, nenhum mundo é possível sem a verticalidade, e essa dimensão por si só evoca a transcendência. Bossuet enxergava a solução dos problemas políticos que afligiam a sociedade na ação do soberano. Na Política Extraída das Sagradas Escrituras, tanto quanto no Discurso Sobre a História Universal, há uma grande esperança colocada sobre a figura protetora do príncipe.
Bem distante do entendimento pós-moderno, que tende a polarizar política e religião, Bossuet, ao divinizar o príncipe, o vê como o soberano de virtude, sendo o responsável por estimular e assegurar a paz entre os homens. Nesse sentido, os textos de Bossuet formam sempre um denso catálogo dos valores morais que o soberano deveria perseguir, do mesmo modo que encerram o elenco dos vícios, em relação aos quais o monarca deveria estabelecer uma prudente distância.
A ordem do mundo repousa sobre os ombros do príncipe. Em contrapartida, Deus exige dele uma prestação de contas mais severa. Assim, a temática do rei-artífice da salvação pública é a chave para se compreender a função da realeza no pensamento político de Bossuet. A presença da realeza sagrada estimularia a ordem e a estabilidade no reino, inibindo os impulsos destrutivos provocados pela inveja e pela tendência natural dos homens para a violência.
É perceptível a relação entre Bossuet e Hobbes, pelo menos em relação à natureza humana. Essas infiltrações hobbesianas são muito comuns na Politique. No entanto, a favor de Aristóteles - e, portanto, contra Hobbes -, ele acreditava que a sociabilidade era um impulso natural entre os homens. Contudo, essa tendência natural pela sociabilização fora desnaturada pela presença do pecado original. Daí decorre a necessidade de um soberano - e também salvador - para quem os súditos devessem se submeter. E, na ausência desse príncipe, os homens voltariam a se desagregar, conduzindo a vida pública ao caos.
O medo da desagregação do corpo político e o problema da insegurança induzem os povos a cercarem seus reis de cuidado. Como ele afirmou na Política Extraída das Sagradas Escrituras, o príncipe é um bem público e cada um deve estar muito preocupado em conservá-lo. A vida do príncipe é vista como a salvação de todo o povo. É uma infelicidade a um Estado ser privado dos conselhos e da sabedoria de um príncipe experimentado e ser submetido a novos senhores que, frequentemente, aprendem a ser sábios à custa do povo.
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