Aspectos Institucionais da Stoa

Ainda menos se sabe a respeito do feitio institucional da Stoá que de outras escolas atenienses. Não temos nenhuma evidência de que Zenão tenha legado a seu sucessor nenhum tipo de propriedade escolar, estrutura financeira ou hierarquia organizacional. O que é bem atestado, porém, é que - como em outras escolas filosóficas - havia um diretor formal (o "escolarca"). Não se sabe se ele era indicado pelo predecessor ou eleito após a morte, mas, uma vez indicado, ele certamente permanecia no cargo até o fim da vida.


Embora a e estrutura institucional da escola permaneça obscura, a questão das finanças certamente avultava. Nem todos os que aderiam à escola eram ricos. Cleantes, particularmente, era reputadamente pobre, e diz-se que cobrava  emolumentos. 1 Seu sucessor Crisipo escreveu em defesa dessa prática que ele mesmo adotava 2 ou, pelo menos, um de seus sucessores, Diógenes da Babilônia.3 Em sua obra Sobre a Subsistência, Crsipo desenvolvia a questão, perguntando de quantas maneiras um filósofo poderia ganhar a vida. As três únicas maneiras aceitáveis, ele concluía, eram servindo a um rei (se não se pudesse ser um rei), contando com os amigos e ensinando. Não há prova de que Crisipo adotasse a primeira dessas práticas, e diz-se de Zenão que explicitamente declinou convites para a corte macedônia. 4 Outros dentre os estóicos principais adotaram-na, porém Perseu aceitou o convite para a Macedônia em lugar de Zenão; e Esfero, um jovem contemporâneo, tinha fortes ligações com a corte alexandrina e a espartana.
 
A parte as considerações financeiras, algumas dessas ligações dinásticas eram indubitavelmenhte, de considerável importância política para as fortunas de longo prazo da Stoá. 5 Também em Atenas o prestígio público da escola parece ter sido elevado. Depois de período breve em 307 durante o qual os filósofos foram exilados da cidade (ironicamente, um sintoma de sua importância política crescente), todos os sinais eram de que eles desfrutaam de estrutura considerável perante o público. Embora, à parte Epicuro, praticamente todos os filósofos helenísticos de quem ouvimos falar sejam não-atenienses, parece claro que muitos tenham recebido a cidadania ateniense. 6 Juntamente à cidadania, outros reconhecimentos de eminência eram conferidos aos filósofos. Zenão de Cício, por exemplo, embora se diga que tenha recusado a oferta de cidadania por respeito a sua cidade natal, foi formalmente honrado pelos atenienses em um decreto na época de sua morte 7:

"Visto que Zenão de Cício passou muitos anos filosofando nesta cidade e viveu, ademais, a vida de um homem de bem, exortou à virtude e à temperança estes jovens que vieram junta-se a ele e encorajou-os rumo ao que há de melhor, estabelecendo a própria vida como modelo para seguir, vida essa que esteve de acordocom todos os ensinamentos sobre os quais discursou, o povo decidiu - que a boa sorte se lhe conceda - homenagear Zenão de Cício, filho deMnaséas, e coroá-lo com uma coroa de ouro, tal como prescreve a lei, por sua virtude e temperança, além de construir para si uma tuamba no Cerâmico à custa do erário público (o decreto prossegue com a pormenorização dos comissionários indicados para a supervisão da obra). " 

É de meados do século II em diante que a reputação pública dos filósofos parece ter-se tornado notável em grau máximo. Em 115, os então diretores da Stoá (isto é, Diógenes da Babilônia), da Academia e do Perípato foram escolhidos como embaixadores para representar Atenas em negociações em Roma, pedindo a remissão de uma multa imposta à cidade pelo saque de Oropo. 8 A ocasião foi de importância histórica especial por causa das conferências que os filósofos deram em Roma, ocasionando ondas de impacto no status quo romano, mas fazendo mais que qualquer outro evento singular para acender em Roma um fascínio pela filosofia que não sofreria nenhuma diminuição ao longo do restante da Antiguidade e teria importância especial para as fortunas futuras do estoicismo.



SEDLEY, David. A Escola, de Zenon a Ário Dídimo. In__: INWOOD, Brad. Os Estóicos. São Paulo: Odisseus Editora, 2006. p. 19-21



Notas:


1. Filodemo, Ind. St. 19 com Dorandi (1994)

2. Plutarco, De Stoicorum Repugnantiis 1043-1044a. 

3. Cic. Acad. II 98

4. DL VII 6

5. Esse aspecto é explorado por Erskine (1990)

6. Cf Filodemo, Hist. Acad. XXXII 6-8 Dorandi (1991), onde o acadêmico Carmadas retornando da Ásia a Atenas, "facilmente obteve a cidadania e abriu uma escola no Ptolomêion". Para a prova epigráfica dessa prática honorífica, ver Osborne (1981-3).

7. DL VII 10-11. O decreto foi ostensivamente exibido tanto na Academia como no Liceu.

8. A ausência de representante epicurista entre eles atesta a postura apolítica adotada e promovida pela escola.


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Enfermeiro formado pela UFRJ. Pós-graduado em saúde mental. Humanista. Áreas de interesse: Cinismo; materialismo francês; Sade; Michel Onfray; ética. Idealizador e escritor do Portal Veritas desde dez/2005.

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