Ética Materialista: Hedonismo de Misrahi

O parisiense anti-religioso Robert Misrahi (1926 - ), professor de filosofia na Sorbonne, escreveu um Tratado da Felicidade (1983), que pretende resgatar a grande esquecida de tantas éticas modernas complicadas: a felicidade.

Por que não falar de felicidade? Não é dela que falavam os antigos, desde Aristóteles, a eudaimonia? Felicidade na política, felicidade na empresa, felicidade e alegria na vida pessoal. 



Ultimamente, diz Misrahi, tivemos filosofias do nada, do absurdo, do desespero, do caos, da hecatombe ecológica, de um existencialismo envenenado de angústia, náusea, medo, solidão malsã, doença do Eu. Tivemos filosofias do sofrimento universal, resumido no Grito do pintor norueguês Munch. Que é isso? Falemos de felicidade!

Tivemos religiões que ainda hoje prometem a felicidade bem longe, lá pelas bandas da eternidade. Tivemos filosofias panteístas que prometem a felicidade na reconciliação futura com a Natureza. Tivemos filosofias marxistas e utópicas que prometem mais adiante um mundo melhor, onde todos se abraçariam. Todas elas recomendam no presente a austeridade, a revolução, o sacrifício, a renúncia. Que é isso? Falemos de Felicidade no presente!

O que é, então, a Felicidade no aqui e agora? É a qualidade de vida. E o que é uma qualidade de vida? É organizar um estilo de viver, feito de relações sociais, amizades, encontros, eventos, no estilo de Epicuro. Ter qualidade de vida significa:  a) reconciliar-se com seu próprio físico, tratando-o com os cuidados de uma odalista; b) reconciliar-se com suas próprias qualidades mentais, alimentando-as com leituras e descobertas; c) reconciliar-se com sua própria sensibilidade estética, em solidariedade com o mundo das flores e das cores.

Se a alegria é o momento, a felicidade é o estado de vida e de ânimo. Ela é uma distância do mal, uma fuga do feio, uma impassividade (ataraxía) frente às desventuras. É uma irradiação de forças positivas pessoais, em diálogo com as irradiações vindas do outro. É, como dizia Nietzsche, o passeio irrenunciável pelas colinas na manhã de sol de domingo.


MARCHIONNI, Antônio. Ética: A Arte do Bom. Editora Vozes: Petrópolis, 2008. P. 222

Enfermeiro formado pela UFRJ. Pós-graduado em saúde mental. Humanista. Áreas de interesse: Cinismo; materialismo francês; Sade; Michel Onfray; ética. Idealizador e escritor do Portal Veritas desde dez/2005.

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