Por Breno Lucano
Ao longo dos episódios, Ambrosius tenta matar Toby com um machado, o afoga, tenta dizimá-lo com sua magia. Nutri-se dos poderes místicos de Kevin no solstício de libra e chega mesmo a escravisá-lo. Mata sua mãe, Emily Vallin, assim como as crianças Steve e Betty em setembro de 1954. Absorve o poder vital de vários homens em The Lair, quase levando-os à morte, além de atentar contra Grace várias vezes, sua maior inimiga. Mente, maquina e utiliza seus poderes em proveito próprio a todo instante.
Clássica cena na piscina de Toby e Kevin |
Com a vontade sem os limites da moral, a destruição se implanta. Mas as virtudes também se aparentam maiores. A moralidade se torna mais visível em Griffith, o Consul de Tresum, que, seguindo as ordens de seus superiores, pune Diana subtraindo seus poderes. Não mais por vontade, mas por dever. Não questiona as ordens, apenas envia o receptáculo da Casa das Sombras ao Consulado.
Comte-Sponville lembra no livro Viver: "... mesmo invisível, mesmo invencível, há atos que não me autorizo e outros me sinto obrigado." Ambrosius pode tudo, Diana e Grace também. Mas o poder obedece os limites da própria moral. Diana utiliza suas capacidades na divulgação da cultura ao comprar a sociedade histórica e, o que é mais importante, no retorno ao tempo para salvar seu pai da morte certa em favor das tradições da Casa da Lua. Ambrossius vacila ao tentar matar Toby com o machado; Diana se arrepende de ter participado do solstício e liberado a Casa das Sombras; Grace se envergonha no The Lair.
Grace e Ambrosius em 1840 |
O problema se concentra na liberdade. O mal moral apenas o é pelo exercício da liberdade. Um louco é legitimamente considerado irresponsável por seus atos por mais cruéis que pareçam pela ausência da escolha - a loucura. O mal é feito, certamente, mas sem vontade. Perigoso, mas não malvado. Assim como os criminosos passionais - Grace prende Ambrossius num cárcere por 150 anos após sua traição. A possibilidade de virtude torna o vício real, disperso por Dante's Cove. Ninguém faz o mal se não é livre de fazer o bem. Donde o raciocínio aporético: ninguém é mau voluntariamente; se o mal existe, então não o é por escolha, mas por necessidade. Nessa hipótese, alguém é mau, absolutamente mau, e seus atos decorrem de sua natureza: a ele é vedada a virtude. E se lhe é vedada a virtude, não deve ser reprovado, já que o mal é sua essência, sua vida. E ninguém escolhe viver. Mas o mal, dizem, também é resultado das condições de vida, de família, educação e acontecimento. Ambrosius se dilapida pelas injustiças pelo qual passou, pelo cárcere, por uma felicidade sempre desejada e nunca alcançada. Mas se as condições ambientais interferem na juízo, também não há culpa porquanto não há escolha. "Ninguém é mau sem querer; mas ninguém quer sê-lo se já não o é", conclui Comte-Sponville.
O itinerário como propósito. Trata-se de não viver para, mas apenas viver. Nada esperar, mas fazer da necessidade, virtude. Construir-se, inventar-se e, uma vez mais, re-inventar-se. Fazer-se em sua singularidade estética e alcançar a realidade última de Dante's Cove: Tresum.
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