Estóicos e a Origem do Mal

O mundo estóico é uno e harmonioso, efeito de uma açõ divina, evidentemente, também una, boa e onipotente. O Pórtico vê, assim, nascer dois problemas que se tornarão clássicos: se Deus é bom e onipotente, como explicar o mal? E, se tudo vem dele, sobra algum lugar para o acaso e para a liberdade?

O princípio da teodicéia estóica, que será retornado por Leibniz, é simples. O mal é apenas relativo, as imperfeições que se podem constatar na natureza são a condição da beleza e da harmonia do conjunto. Quando se observa apenas um aspecto do mundo, corre-se o risco de pensar que ele poderia ser melhor, mas tal acréscimo de perfeição prejudicaria a perfeição do universo na sua totalidade. Assim, o crânio do homem é frágil, mas a sutileza dos ossos é a condição do desenvolvimento do encéfalo. Não se pod pensar corretamenteum elemento sem situá-lo na totalidade. O universo contínuo dos estóicos recusa isolar o que quer que seja: nada está separado, tudo se interliga a tudo.

O sofrimento não é, portanto, um mal em si, ele só aparece na superfície do real. Pedra de tropeço da saedoria, o sofrimento é a prova, no duplo sentido do termo, por meio do qual se revea nossa liberdade ou nossa servidão em face dos alsos valores veiculados pelas aparências: prazer físico, possessões materiais, poder. É bom que se esclareça que a técnica pouco desenvolvida da medicina grega não permitia prolongar a vida dos doentes graves, de modoq ue se admita frequentemente que dores insuportáveis não poderiam durar muito tempo e que soment as doenças benignas deixavam temores de dores longas, porém toleráveis.

O único mal verdadeiro e o mal moral, aquele que nós fazemos. Nada nem ninguém pode me fazer algum ma, o único mal possível que me pode ser feito é o que eu cometo quando realizo uma ação má.

Ao contrário, o prazer e as riquezas não são bens, pois se assim fossem teríamos razão de procurá-los. Todavia, também não são males - como se constatou, o estóico não se considerava obrigado à pobreza. Eles são, portanto, indiferentes. O mal está no apego à riqueza e ao prazer. O Pórtico é bastante lúcido para saber que se as riquezas, o prazer e o poder não são males em si, eles nos conduzem frequentemente ao mal, induzindo em nós o desejo de conservá-los ou de aumená-los, desejo que nos move a fazer o mal.



DUHOT, Jean-Joel. Epicteto e a Sabedoria Estóica. Edições Loyola: São Paulo, 2006.


Artigos Relacionados:

Proclo: A Orige do Mal

Sócrates e o Bem

Filosofia Como Preparação Para a Morte

Enfermeiro formado pela UFRJ. Pós-graduado em saúde mental. Humanista. Áreas de interesse: Cinismo; materialismo francês; Sade; Michel Onfray; ética. Idealizador e escritor do Portal Veritas desde dez/2005.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Caro leitor do Portal Veritas, ao escrever uma consideração, algumas medidas devem ser observadas.

Considerações sobre uma publicação APENAS devem ser tecidas na publicação relativa. Toda e qualquer consideração sem relação não será aceita pela gerência.

Caso haja necessidade de escrever algo sem nenhuma relação específica com qualquer publicação, utilize o LIVRO DE VISITAS, anunciado no menu do portal. Nele serão aceitas sugestões, comentários, críticas, considerações diversas sobre vários temas.

Em necessidade de contato com a gerência de modo privado, sugerimos o FALE CONOSCO, também no menu. Todas as mensagens são devidamente respondidas.

Agradecemos pela colaboração!


Breno Lucano
Gerente do Portal Veritas