O francês Michel Foucault (1926 - 1984) é um dos cérebros mais brilhantes do século XX. Filósofo, psicólogo, psicopatologista, professor universitário, ele desmascara os embustes da sociedade moderna, escreve sobre vários temas da atualidade e dedica-se basicamente à história do pensamento humano, que, com suas loucuras e hipocrisias, provoca a morte do homem após Nietzsche ter declarado a morte de Deus.
Como remédio a tanta loucura, Foucault ressuscita o ideal epicurista da alegria do viver, como uma antiga Grécia, quando o espírito dionísico do prazer convivia com o espírito apolíneo da estética. Dioniso era o deus do vinho e da dança, Apolo era o deus das letras e das formas corporais perfeitas.
Esta ética e estética da alegria, com sabor epicurista, tem também sabor romano. Mediante as campanhas bélicas de Alexandre Magno, a cultura grega se difundiu ao redor do Mediterrâneo, que os romanos chamavam "o nosso mar - mare nostrum". É o chamado Helenismo, quando a "Grécia conquistada (por Roma) conquistou o feroz conquistador", segundo o verso do poeta Horácio em suas Epístulas (17 AC). São vivas as imagens felinianas do filme Satyricon, com senadores, jovens e bacantes entretidos em banquetes, termas, sexo, letras e jogos.
A estética romana do viver, todavia, incluía também a fineza intelectual: reflexão silenciosa, exame de si, culto das belas letras, ócio dedicado às artes. Estas atividades estavam contidas na famosa expressão estóica exercicios espirituais (curiosamente, para esta expressão é retomada em 1548 pelo fundador dos Jesuítas, Inácio Loyola, cujos exercícios espirituais, praticados até hoje, consistem numa semana de silêncio religioso a cada ano, paa reorganizar a vida).
Liberado de qualquer interdição, Foucault retoma o ideal epicurista e romano do exercício alegre das artes e da vida estética (A Cura de Si, 1984). As forças que nos pasmaram nos séculos, ele diz, nos abandonaram, porque não há mais ninguém que nos diga o que devemos fazer. O terreno foi limpo e estamos não tanto no campo da proibição quanto no campo das oportunidades, que deemos desfrutar. O conceito de fundo é a "cura de si".
Ter cura de si significa possuir-se a si mesmo, dar forma a si mesmo, plasmar-se, esculpir-se como uma estátua, dar a si mesmo sua própria lei, evitar prostituir-se aos ditados das mercadorias e tecnologias, fugir das proibições tradicionais e religiosas, as quais ferem a plenitude do viver.
A cura de si é um orgasmo da carne e do espírito, um estilo requintado de moradia e de amizades festivas, uma profusão de ações belas e de pensamentos depurados, uma liberação do corpo e do astro mental, uma ode existencial à Dioniso e Apolo. "Nos preocupamos tanto - diz Foucault - de ter em casa um lustre criado por um designer, e depois nos esquecemos de nós mesos".
Marchionni, Antônio. ÉTICA: A ARTE DO BOM. Petrópolis: Editora Vozes, 2008. p 220-221
Ética Materialista: Hedonismo de Comte-Sponville
Ética Materialista: Hedonismo de Misrhai
Ética Materialista; Hedonismo de Onfray
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Esta ética e estética da alegria, com sabor epicurista, tem também sabor romano. Mediante as campanhas bélicas de Alexandre Magno, a cultura grega se difundiu ao redor do Mediterrâneo, que os romanos chamavam "o nosso mar - mare nostrum". É o chamado Helenismo, quando a "Grécia conquistada (por Roma) conquistou o feroz conquistador", segundo o verso do poeta Horácio em suas Epístulas (17 AC). São vivas as imagens felinianas do filme Satyricon, com senadores, jovens e bacantes entretidos em banquetes, termas, sexo, letras e jogos.
A estética romana do viver, todavia, incluía também a fineza intelectual: reflexão silenciosa, exame de si, culto das belas letras, ócio dedicado às artes. Estas atividades estavam contidas na famosa expressão estóica exercicios espirituais (curiosamente, para esta expressão é retomada em 1548 pelo fundador dos Jesuítas, Inácio Loyola, cujos exercícios espirituais, praticados até hoje, consistem numa semana de silêncio religioso a cada ano, paa reorganizar a vida).
Liberado de qualquer interdição, Foucault retoma o ideal epicurista e romano do exercício alegre das artes e da vida estética (A Cura de Si, 1984). As forças que nos pasmaram nos séculos, ele diz, nos abandonaram, porque não há mais ninguém que nos diga o que devemos fazer. O terreno foi limpo e estamos não tanto no campo da proibição quanto no campo das oportunidades, que deemos desfrutar. O conceito de fundo é a "cura de si".
Ter cura de si significa possuir-se a si mesmo, dar forma a si mesmo, plasmar-se, esculpir-se como uma estátua, dar a si mesmo sua própria lei, evitar prostituir-se aos ditados das mercadorias e tecnologias, fugir das proibições tradicionais e religiosas, as quais ferem a plenitude do viver.
A cura de si é um orgasmo da carne e do espírito, um estilo requintado de moradia e de amizades festivas, uma profusão de ações belas e de pensamentos depurados, uma liberação do corpo e do astro mental, uma ode existencial à Dioniso e Apolo. "Nos preocupamos tanto - diz Foucault - de ter em casa um lustre criado por um designer, e depois nos esquecemos de nós mesos".
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